Tenho um desejo do mal.
Gostaria, do fundo do meu coração, que os racistas e xenófobos brasileiros viessem morar aqui no Hemisfério Norte para sentirem na pele, ressecada pelo frio, um pouco do que é ser considerado ralé pela cor ou pela origem latino-americana.
Eu acredito que uma parte dessas pessoas, que se acham acima de outras, perderiam o colágeno da cara de pau e pensariam duas vezes ao fazerem afirmações do tipo:
– “Baiano não gosta de trabalhar, era melhor contratar argentino!”
Como o caso de um político do Sul do Brasil ao falar sobre o gravíssimo caso de trabalhadores em situação análoga à escravidão.
É esse pessoal, geralmente, que quando o Brasil dá errado, saca correndo seus passaportes estrangeiros de avós e bisavós e vai para a Europa em busca de alguma dignidade.
Embora autodeclarados liberais na economia e conservadores no costume, normalmente esse tipo não aguenta mais pagar a escola do filho no Brasil e pede arrego nos países onde há um tecido social que garanta educação e saúde, ajuda tão criticada no Brasil.
É desse grupo que sai muita loura falsa chorosa, chateada porque a unha lascou na faxina da casa. Sem poder arcar com uma empregada negra para chamar de sua doméstica, essa mulher deprime.
E aqui um adendo, nada contra a quem pinta cabelo, mas tudo contra a quem quer usar o artifício para embranquecer, pois despreza a miscigenação e a negritude brasileira.
Essa galera, que sempre foi contra a inclusão, vai sentir na pele, talvez pela primeira vez, dependendo da cor e posição social no Brasil, o que é ser avaliado pela raça, pela origem, pela história.
E esse povo, que nunca quis ler nada a respeito do assunto, porque afinal de contas isso é coisa de esquerdista mimimi, vai ficar confuso com o tratamento gelado recebido por alguns nativos do Norte Global, seu fetiche de sucesso.
A princípio pode achar que é um mal-entendido, choque cultural, até cair a ficha de que há muito de racismo e xenofobia. Mas quando descobrir que tem relação com o simples fato de sermos de onde somos, será um choque que irá abalar a estrutura.
Eu espero, lançando mão de toda a minha humanidade, que esse pessoal aprenda um pouco sobre o sistema racista e suas engrenagens para que sua chegada no exterior seja mais consciente.
De resto, torço para que os inúmeros eventos que acontecem no mês de março, marcado pelo Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, no dia 21 de março, consigam tocar o coração de alguns.
Quanto mais conscientização, menos surpresas desagradáveis.
Liliana Tinoco Bäckert é jornalista, vive na Suíça, tem coluna na Rádio CBN sobre vida no exterior e é autora do livro “Amores Internacionnais: Casei com um Estrangeiro, e Agora? , além de já ter outro no forno sobre preconceitos no exterior.
Para puxar um papo com a Liliana, mande um direct pro seu Instagram ou lhe escreva um e-mail.
Ah, então só tem um jeito: inscrever-se na BPM Newsletter