Um dos sinais de ansiedade mais conhecidos é a chamada ‘boca nervosa’. A gente come as emoções. E nessa, vamos ganhando letras e números nas roupas: M, L, XL, 40, 42, 46, 48…
Como brazuca é um povo vaidoso, imagine se olhar no espelho e notar que o cós da calça está dobrando sobre aquele pneu de caminhão de mina de ferro? Não dá, né?
Esta é a história de Valderclei.
Mesmo não dominando o francês, Valderclei sabia que precisava se mexer. Depois de achar na internet uma academia pertinho da sua casa, lá foi procurar um short pra malhar.
– É, tá meio apertadinho, mas passa, e ainda dá a impressão que tô fortinho! (auto-estima é tudo, né?).
“Meio apertadinho”, é um eufemismo pra short Chitãozinho e Xororó vestido pelo Kid Bengala no auge de sua loooonga e robusta carreira artística. Deu pra imaginar?
Uma vez na academia, a recepcionista abriu logo um sorrisão simpático pro imigrante :
– Oieee, tudo bem? Como posso te ajudar?
Surpreso com a informalidade, Valderclei dá uma encolhida power na pança e falando como se fosse o William Bonner com sotaque de Google tradutor fanho:
– Alou, querida, não tão bem quanto você, mas beauté! No Brasil, eu fréquentait muito a académie, e trainait quase todos os dias, mas eu estou um petit arrêté.
A recepcionista nem piscava, o sorriso congelado, absolutamente concentrada em tentar decifrar a origem antropológica daquele ser.
Pensando estar arrasando na sedução e no idioma, Valderclei sorri com um charme que só um brasileiro da gema tem e completa com uma pérola de rara semântica :
– Então, petite belle, eu queria saber quais são os seus plans de hoje.
Sem perder a simpatia, a recepcionista olhava pro nosso Brazuca como quem observava o último Leontopithecus rosalia da Mata Atlântica, e solta:
– Desculpe-me, Senhor, mas não entendi uma única palavra.
Foi a última vez que Valderclei foi visto. Dizem que estaria enfurnado em alguma floresta perdida no meio da Costa Rica.
Para você não cometer os mesmos percalços linguísticos-culturais do pobre Val, sugerimos aprender certas palavrinhas:
Beauté – Sim, significa beleza, mas JAMAIS como gíria no sentido de ‘Beleza!’, ‘Tudo bem! Tudo certo!’
Fréquentait – Vem do verbo “fréquenter”. Você poderá usá-la em dois sentidos: o literal, de frequentar um lugar, mas também num sentido mais figurado, o de estar saindo com uma pessoa apenas pra gratinar o canelone; molhar o biscoito; pôr a jiripoca para piar; pra fazer um tchaca tchaca na butchaca, um vuco-vuco, um canguru perneta ou um lepo lepo…em outras palavras, sair sem intenções de namoro.
Académie – Tá bom, ela também existe em francês, mas se a sua intenção é ficar “top shape”, procure um “centre d’entrainement” ou um “gym”.
Traînait – Vem do verbo “trainer” que, contudo, não significa treinar, mas puxar alguma coisa. O certo seria dizer: “Je m’entraînas au gym”, do verbo “entrainer”.
Petit arrêté – É muito criatividade do Valderclei . “Petit arrêté” não quer dizer ‘um pouquinho parado’. Vá no simples: “je n’ai rien fait depuis” ou “je ne fait rien”.
Petite belle – Não é bonitinha, nem “petit beau” bonitinho. De onde ele tirou isso?
Plan – Ok, “plan” é plano, em francês, mas em português ele pode ter dois sentidos: ‘o que você está planejando fazer hoje’ ou ‘um conjunto de serviços (NET, por exemplo). Pra não pagar micos, diga ”forfait”, ao se referir a plano de academia, de assinatura etc.
Ah, então só tem um jeito: inscrever-se na BPM Newsletter